Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


04-07-2007

Numa fazenda triangulina Maria Eduarda Fagundes


Maria Eduarda Fagundes*

         Descendo a serra do Padre, em Tupaciguara, uma paisagem rural  típica do interior do Triangulo Mineiro se descortina. Estradas vermelhas de terra de massapé correm entre pastos salpicados de bois zebu, campos cultivados, e colinas mais ou menos arborizadas, que de longe mais parecem manchas azuladas. Ao longe, espelhado no horizonte, um grande lago formado pela represa das águas do rio das Velhas completa a paisagem.

O clima dessa região é particular, tem um inverno frio e seco, que tudo entristece com a vegetação encarquilhada amarelo-amaronzada do cerrado, e um verão chuvoso e quente, que é chamado pelos locais de Inverno, quando a natureza explode em ondas de todas as tonalidades de verde.

Os caminhos de terra batida soltam uma poeira fina e rosada quando percorridos pelos carros ou pelos cavaleiros tocando as suas boiadas. Vez  por outra, ouve-se um” eh, boi” ou o som que mais parece um alto mugido, é o peão chamando com o berrante o seu gado. De espaços em espaços placas mostram o nome das propriedades.

Em geral as fazendas da região são bastante parecidas, o que as diferencia é a idade, a topografia, e o investimento do seu proprietário.

A casa principal é a base da sede. Antiga ou reformada ao gosto moderno, atualmente só é ocupada em finais de semana. Lá  se encontram também os currais, paiol, morada do caseiro, cercado para as hortaliças e o quintal. Tudo isso rodeado por pastos e/ou por campos plantados. Os regos e minas d’água são sempre limpos e cuidados, pois a água nestes sitios é um bem inestimável.

Como a ocupação dessas bandas do interior brasileiro é mais ou menos recente (século XIX), ainda pode-se ver, em certas fazendas, o requinte das casas dos “coronéis-fazendeiros” do século retrasado que os herdeiros preservaram.

Diferentemente de hoje, morava-se naquela época na fazenda e só se ia à cidade nos dias de domingo ou de festividades. Para aqueles que tinham posses, as construções eram feitas com capricho e estilo, com materiais muitas vezes importados. Os mestres de obras eram na maioria das vezes portugueses ou italianos. As moradas senhoriais eram espaçosas e abrigavam com freqüência a família e empregados. As paredes das salas e quartos eram pintadas com lindos motivos e paisagens em técnica trompe l’oeil, e faziam composição com a “marcheterie” dos tetos e assoalhos. Havia toda uma estrutura física de manutenção material à casa do coronel. Os quintais eram ricos em árvores frutíferas onde abundavam laranjeiras, limoeiros, jabuticabeiras, pés de serigüelas, cajás-manga, mangueiras, nespereiras, goiabeiras, abacateiros, e  bananeiras.  No terreiro, repleto de patos, mutuns, angolas e galinhas, um cercado fechava uma horta farta. O chiqueiro, estrategicamente colocado, guardava a sempre esfomeada porcada. Do alpendre, à tardinha, depois do trabalho, os donos da casa, sentados com o cão aos pés, viam o gado voltar em passos vagarosos do pasto.  Quando a noite caía os pássaros em revoada procuravam as árvores e silenciavam. Tudo se aquietava.  O céu escurecia e nas noites quentes os vaga-lumes disputavam com as estrelas quem mais brilhava.

As manhãs começavam antes da aurora. A fumaça da chaminé indicava que o fogão de lenha já estava aceso e com a chaleira de ferro no fogo.  Logo um cheiro doce e gostoso de café se expandia pela casa inteira. No curral as vacas mugiam esperando a ordenha. Os galos, vaidosos,  exibiam seu canto aos primeiros raios de sol. Era o chamado para a  lida do novo dia.

* Maria Eduarda Fagundes 

Uberaba, 14/06/07